O Presidente angolano avisou hoje que as relações com Portugal vão “depender muito” da resolução de um caso, que passou a ser “o caso”, de Justiça/política que tem no epicentro jurídico o ex-Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Manuel Vicente, e no epicentro político o ex-vice-Presidente da República, Manuel Vicente. João Lourenço não teve problemas em, como fizera José Eduardo dos Santos sobre o mesmo caso, classificar a atitude da Justiça portuguesa como “uma ofensa” para Angola. (Artigo em actualização).
“Nós não estamos a pedir que ele seja absolvido, que o processo seja arquivado, nós não somos juízes, não temos competência para dizer se o engenheiro Manuel Vicente cometeu ou não cometeu o crime de que é acusado. Isso que fique bem claro”, disse o Presidente da República, que falava nos jardins do Palácio Presidencial, em Luanda, na sua primeira conferência de imprensa com mais de uma centena de jornalistas de órgãos nacionais e estrangeiros, quando passam 100 dias após ter chegado à liderança no Governo.
Tal como já tinha sido feito por outros membros do Governo angolano, João Lourenço reafirmou a pretensão de o caso do ex-vice-Presidente (à data dos factos em análise PCA da Sonangol) ser julgado em Luanda, ao abrigo dos acordos judiciários entre os dois países.
“Lamentavelmente [Portugal] não satisfez o nosso pedido, alegando que não confia na Justiça angolana. Nós consideramos isso uma ofensa, não aceitamos esse tipo de tratamento e por essa razão mantemos a nossa posição”, enfatizou João Lourenço. Mas, realçou, “a intenção não é livrar o engenheiro Manuel Vicente da acusação”.
É claro que Portugal não tem razões para duvidar da Justiça angolana. Basta ver o que os ditos órgãos angolanos de justiça, tribunais e Procuradoria-Geral da República, fizeram recentemente nas eleições ou, antes, no suposto julgamento dos chamados Revus. Em ambos os casos foram meras sucursais partidárias do MPLA e não órgãos de justiça.
Em causa está o caso “Operação Fizz”, processo em que o ex-vice-Presidente de Angola e ex-Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, Manuel Vicente, é suspeito de ter corrompido, em Portugal, Orlando Figueira, quando este era procurador do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), do Ministério Público, que investiga a criminalidade mais grave, organizada e sofisticada, designadamente de natureza económica.
“Mas que isso seja feito aqui, pela Justiça angolana, em Angola”, afirmou João Lourenço, salientando que o Governo angolano “não tem pressa” na resolução deste processo e escusando-se, para já, a clarificar o que poderá acontecer às relações entre os dois países caso o julgamento avance, como previsto, no Tribunal Judicial de Lisboa, a 22 de Janeiro.
“A bola não está do nosso lado, está do lado de Portugal”, concluiu João Lourenço.
Tudo…. normal com José Eduardo dos Santos
João Lourenço diz que não sente crispação com o ex-chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, mas aguarda que cumpra o compromisso anteriormente assumido, de deixar a liderança do partido em 2018.
“Só a ele compete dizer se o fará, se vai cumprir com esse compromisso. Quando isso vai acontecer, só a ele compete dizer”, disse o Presidente da República neste inédito encontro cm os jornalistas.
Questionado sobre a alegada tensão que mantém com o presidente do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975, e ex-chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, o Presidente negou qualquer problema: “Não sinto essa crispação nas nossas relações”, afirmou João Lourenço.
Acrescentou que mantém “relações normais de trabalho” com o presidente do partido, negando qualquer bicefalia na governação em Angola, até porque “nada está acima da Constituição”, ambos trabalhando em “campos distintos” e com “cada um a cumprir o seu papel”.
“Oito dias [dias do mês de Janeiro] não é nada. Vamos aguardar os próximos tempos”, refutou, sobre o anúncio feito em 2016 por José Eduardo dos Santos, que disse abandonar a vida política em 2018.
Desde que assumiu o cargo de Presidente da República, João Lourenço já realizou mais de 300 nomeações, que corresponderam a várias dezenas de exonerações, incluindo da empresária Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos, da Sonangol, e de mais de 30 oficiais generais em posições de topo na hierarquia militar, valeram-lhe a alcunha nas redes sociais: “O exonerador implacável”.
Foram “tantas quantas as necessárias”, respondeu hoje, a propósito, o chefe de Estado.
Apesar de ter deixado a presidência angolana, José Eduardo dos Santos mantém-se líder do MPLA, partido no poder desde 1975, com mandato até 2021, e ainda não se referiu publicamente às mudanças que João Lourenço tem vindo a implementar, nomeadamente ao afastamento dos filhos de lugares chave em poucas semanas.
É o caso de milionária empresária Isabel dos Santos, exonerada de Presidente do Conselho de Administração da petrolífera Sonangol, ou da empresa Semba Comunicação, que tem como sócios os irmãos Welwitshea ‘Tchizé’ e José Paulino dos Santos ‘Coreon Du’, filhos do ex-chefe de Estado angolano, que perdeu a gestão do canal 2 da televisão pública angolana.
Estas medidas fizeram disparar o apoio popular a João Lourenço.
E quanto ao Fundo Soberano?
João Lourenço admitiu aplicar, nos próximos dias, medidas propostas pelo Ministério das Finanças sobre a gestão do Fundo Soberano de Angola (FSDEA), não descartando exonerar a administração.
Questionado sobre o facto de não ter exonerado o Conselho de Administração do FSDA, liderado por José Filomeno dos Santos, filho do ex-Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, João Lourenço disse que decorre um diagnóstico à gestão daquela instituição, que gere activos financeiros do Estado angolano no valor de 5.000 milhões de dólares.
“Não diria que vou exonerar, mas pode vir a acontecer”, disse João Lourenço, informando que uma empresa idónea fez o diagnóstico às contas do FSDEA e, na sequência desse trabalho, o Ministério das Finanças apresentou uma proposta de medidas a serem tomadas, para melhor controlo “dos dinheiros postos à disposição do Fundo Soberano”.
“Estou a analisar essas medidas propostas e é muito provável que nos próximos dias venham a ser implementadas”, disse, sem adiantar pormenores.
Em conferência de imprensa, realizada na semana passada, o ministro das Finanças, Archer Mangueira, disse que a perspectiva do executivo é fazer aprovar, ao longo do primeiro semestre deste ano, uma nova estratégia para o Fundo Soberano de Angola, adequada ao novo contexto económico e financeiro que o país está a viver.
Em Novembro de 2017, surgiram denúncias sobre a gestão do FSDEA, relativamente ao suposto recurso desta instituição a paraísos fiscais, divulgado em documentos revelados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI), no âmbito da investigação ‘Paradise Papers’.
Em reacção, o FSDEA garantiu que todas as operações que realiza são feitas de “forma legítima”, ao abrigo dos “mais altos padrões regulatórios”.
Folha 8 com Lusa
Foto: William Tonet, director do Folha 8, quando colocava questões ao Presidente João Lourenço.
Não se deve confudir os princípios de Montquestou com os de Pablo Escobar
Governo Português nao manda nem tem poderes sobre a justiça portuguesa..e não há amigos e compinchas…mas onde e que ainda nao entendeu presidente Joao Lourenço??passamos para o povo que Portugal precisa de Angola??um pais 14/2 mais pequeno que Angola com orçamento de estado para este ano ai 7 vezes superior ao Angolano..Petróleo?muitos países vendem..nos Angolanos queremos casas,ferias,médicos filhos a estudar …onde vão a maior parte?Portugal..ainda me custa entender as represálias que o governo tanto fala….nao se esquecam que os Tugas prenderam 1 ex primeiro ministro, bancários intocaveis e amigos de amigos..coerência ha em toda a parte do mundo..
Em função da cooperação judiciária que existe entre os dois paises, tenho esperança que irão resolver da forma mais matura, democratica e responsável.
A confiança é como papel, uma vez amassado, nunca mais volta a ser perfeito como antes.